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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Simple Life

Ta bom. Eu tento, eu juro que eu tento. Mas é impossível trabalhar com aquele tanto de caipiras que tem naquele escritório. Tudo bem que eles sabem fazer as coisas quando eu solicito, mas pelo amor de Deus, só sabem fazer o que eu peço e direciono? Não é porque eu sou a chefe que sou obrigada a ser a única referência, a única maneira de se tomar decisão. Autonomia é necessária meu povo.
Tudo começou quando o pessoal quis me transferir pra essa cidadezinha do interior, realmente eu sei que ta crescendo a empresa, temos futuros a construir nessa região mas vamos à primeira impressão.
Cheguei e já vi que o pessoal não tem nenhum tipo de padrão pra se vestir. Assustei no começo, tudo bem que seria difícil exigir terno e gravata, mas como vou manter-me em seriedade quando a mulher do cafezinho ta vestindo uma camiseta de político? E o pior, a água servida lá em é em um filtro de barro. Não bastasse isso, os únicos computadores ali foram comprados em Cruzeiros.
Tudo bem que a empresa se situa no interior e eles mandaram-me com o intuito de criar um ambiente harmônico e apresentável para a visita de nossa matriz, mas quanto mais conheci os funcionários, mais notei que seria complicado tornar aquela empresa ao menos com cara de empresa.
A Maria, ou melhor, uma das Marias, me veio pedindo no primeiro dia pra sair mais cedo porque tinha uma novena pra comparecer em razão a chuva ou alguma coisa assim. Agora eu, uma executiva de sucesso, que trabalho numa empresa que vende painéis solares vou permitir uma das funcionárias sair pra pedir chuva? O pior não é isso. O pior é que fiquei queimada na empresa. Agora estou certa ou errada?
Na outra semana eu vou para o meu escritório e o que acho? Uma galinha. Isso mesmo, uma galinha em cima da minha mesa, e ainda fazendo necessidade em cima das minhas folhas. Agora quando saí pra perguntar quem tinha feito isso, ninguém disse um “A”. Tudo bem, relevei. Saí pra comprar minha água mineral na venda ao lado, mas ao voltar não era uma. Eram sete galinhas na minha mesa, o Sebastião ainda me corrige dizendo que uma daquelas criaturas era um galo. Daí não agüentei e disse que se descobrisse o responsável por isso eu ia acabar despedindo a pessoa. Ouvi uns murmurinhos mas pararam com as graças, ao menos era o que eu pensava.
No outro dia quando entro na empresa todos vestidos com roupas de quadrilhas. Umas camisas xadrez pra cá, umas calças rasgadas pra lá, e todos os homens com chapéu de palha. Eu estava a ponto de dar um chilique quando a Ana me veio oferecendo uma pamonha. Depois me controlei e vi que era até possível que eles estivessem querendo voltar à amistosidade. Engano meu. Quando acho que realmente as coisas voltaram ao normal, ao final do expediente vem-me um cliente conversar sobre a aquisição de vários painéis solares, quando saio no saguão pra perguntar ao José onde estavam os folhetos explicativos, vejo umas três redes armadas com o José e mais dois amigos dele deitados e ainda dizendo que estavam apenas matutando.
Resolvi marcar uma reunião para decidir o que teria que fazer pra acabar com toda aquela caipiragem no meu escritório. Me disseram que eu tinha que parar de enxergá-los como caipiras e vê-los como gente, por isso eles estavam me mostrando como eu realmente os imaginava e como eram os caipiras de verdade. Depois ainda disseram que eu não podia mexer nos hábitos deles, e que a Maria ficou muito triste de não poder ter ido à novena.
Agora não ir a Novena é motivo pra deixar de trabalhar da forma certa? Tudo bem que eles têm os hábitos deles, mas não sei como eu poderia mudar isso. Seria tão simples se eles se adaptassem, mas não...Todo mundo dizia que a culpa era minha eu cheguei de fora e eu que tinha que mudar. E começou a hostilidade. Quando pedia relatório continuava vindo sujo de terra. Quando pedia pra alguém fazer hora extra diziam que tinham que cuidar de vacas? Deixar de fazer a empresa prosperar por causa de vacas?
Então chegou o dia da vistoria da matriz e aí que me aprontaram a maior de todas. Coincidência ou não, caiu no dia da festa da Santa que dá nome à cidade e agora te pergunto. Alguém foi trabalhar? Ninguém. Nem uma alma viva. Nem mesmo a menina do cafezinho que vestia camiseta de políticos. Foi então que chegou o chefe da vistoria e eu disse que desistia. Podia me mandar pra qualquer lugar, desde que me garantissem ar condicionado, uma prédio, muitos carros lá fora e nenhuma, mas nenhuma mesmo, galinha.
E amanhã começo no meu novo escritório: Na Bahia.

Mesthor

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