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segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A Maldição do Casamento

Conto vencedor do III Concurso de Contos de Terror da Área N


Não há quem não reparasse nela. Apesar de não sair de casa, conseguia manter sempre uma bela forma. Sim, belas cinturas, quadril em uma medida considerada perfeita e uma silhueta de dar inveja à todas as vizinhas que rodeavam sua casa. Seu nome era Milena, e não tinha um homem na vizinhança, casado ou não, que não a cobiçava ou tinha seus sonhos povoados por ela.

Amigos ela não possuía. Ninguém a visitava, de vez em quando ela se ausentava de sua casa, mas era pra viagens que duravam meses, e depois voltava só para seu lar. E lá permanecia só, junto à sua televisão. Ela tinha uma iguana, verde e enorme, que punha medo nas crianças que a viam, alguns diziam que já viram a iguana comer um gato inteiro.

Apesar disso, as únicas palavras que ela dizia eram frios cumprimentos aos vizinhos quando saía pra ir ao supermercado. Toda vez que tentavam conversar mais com ela, ela apenas dava uma resposta seca e ia embora fazer o que ela tinha programado pra si mesma.

Ela chegou naquele bairro quando seu primeiro marido comprou lá a casa. Eles chegaram logo após a lua-de-mel. Ela tinha seus 16 anos. Ele tinha 24. Porém pareciam ser um casal muito convencional. Ele sempre saía pra trabalhar e voltava à noite. Ela só saía quando era pra ir ao supermercado. Os vizinhos que a iam recepcionar eram recebidos com felicidade, batiam um papo e depois se iam. No começo ela era amável e amiga. Até que um desastre aconteceu.

Um dia simplesmente seu marido não voltou do trabalho. Ela ficou desolada com o acontecido. A polícia tentou que tentou achar o paradeiro dele, porém não havia nenhuma pista que ajudasse a encontrar seu paradeiro. Ele tinha sim saído de seu serviço, porém, não chegou até em casa. Ela ficou desesperada e durante as noites só se ouvia seu choro inundando a casa.

Todos lhe prestavam condolências e ela as aceitava, mas nada dizia. Apenas chorava. Foi quando ela partiu pra sua primeira viagem. Voltou dois meses depois, e em casa ficava só, junto à sua TV. Quando os vizinhos iam visitá-la, ela alegava não estar bem e dispensava as visitas ou convites que eles faziam a ela. Sua única companhia era a iguana que ela trouxe junto com a viagem.

Porém, um ano após seu casamento, ela novamente viaja, e quando volta, volta acompanhada por um novo marido. Esse parecia ser mais jovial e mais esportivo. Ele era jogador de tênis e estava se iniciando na liga amadora quando se mudaram. Os vizinhos o adoravam sempre alegre e piadista. Porém, coincidência, sina ou maldição, certo dia foi para o treino e não mais voltou. A esposa ficou mais desolada ainda, porque não acreditava que aquilo podia acontecer mais uma vez com ela. Ela queria saber o porquê daquilo só acontecer com ela.

Os policiais ficavam perdidos, porque nenhum vestígio era encontrado, nem onde desapareceu nem na casa. Uma coisa era certa. Milena passou por mais um período muito triste. Dessa vez ela chorava muito mais que da outra vez, mas os vizinhos começavam a cogitar o possível motivo dos sumiços. Alguns desconfiavam dela, outros de algum possível inimigo que ela pudesse chegar a ter, mas os rumores só aumentavam e nada se resolvia. Ela partiu novamente para a viagem que fez. Os vizinhos se questionavam pra onde ela estaria indo, mas ninguém nem idéias tinham.

Depois de dois meses ela voltou e estava novamente em seu isolamento solitário com seu iguana, porém, mesmo que os vizinhos oferecessem companhia, ela não aceitava, nem os convites pra sair, festas de aniversário ou da Associação de Bairros, nada. Ela permanecia reclusa em sua sala com sua TV.

Um dos vizinhos era mais insistente. Ele era apaixonado por ela desde que ela havia mudado pela primeira vez para aquele bairro, porém mantinha em secreto sua paixão por ela. Até que o segundo marido dela desapareceu. Ele e seu amigo ficaram muito intrigados com o porquê, porém ele resolveu que queria conquistá-la de qualquer forma.

Começou visitando sua casa várias vezes, e por mais que ela o dispensasse ele sempre insistia em entrar, ela tentava que tentava se desviar dele, porém ele insistia muito.

Certo dia depois de tanta insistência ela deixou-o entrar e começaram a conversar. Ele encantado por ela, mas ela nem conversava tanto com ele. Ela resolveu convidar-lhe para o jantar. Ele aceitou e perguntou se poderia chamar o amigo. Ela aceitou.

No jantar ela se soltou mais. Estava mais disposta, mas bem humorada e conversava mais com os dois cavalheiros seus vizinhos. Finalizado o jantar eles se despediram e foram embora. Um dos amigos estava feliz demais por ter jantado com ela, ele achava que era questão de tempo até conquistá-la da forma que ela o conquistou.

As visitas se tornaram mais freqüentes, mais freqüentes até que enfim, eles assumiram o namoro. Ela já se mostrava uma outra pessoa, mais feliz, mais alegre, recebia outros vizinhos em jantares e ainda por cima sempre sorridentes. Sua casa era outra. Mais feliz aconchegante e animada. Passados alguns anos, eles resolveram se casar.

A cerimônia dessa vez se diferiu das demais, antes era apenas civil. Essa foi em igreja com ornamentos e tudo o mais. Porém nenhum convidado da noiva, apenas do noivo. Alguns estranharam, mas deixaram pra lá e curtiam a festa, que foi muito bem comentada por todo o bairro.

A vida seguiu tranqüila. Enquanto seu novo marido saía pra trabalhar, ela ficava em casa cuidando dela e fazendo tricô, um hobby aprendido com uma vizinha. Tudo ia bem, até em filhos eles pensavam, tinham o intuito de formar uma bela família. Até que novamente, o pior aconteceu. O marido dela desapareceu novamente e sem nenhum vestígio.

Ela desesperou, porque não agüentava que aquilo estivesse novamente acontecendo com ela, não achava que poderia ser possível três vezes acabarem com a felicidade dela. Como era possível acontecer somente com ela? Ela chorava que todo o bairro ouvia e lamentava. Alguns desconfiavam, mas nada acontecia, porque ninguém tinha a menor pista ou paradeiro de onde poderiam estar os desaparecidos maridos dela. A polícia se viu perdida e estava a ponto de novamente arquivar o caso. Porém uma pessoa não estava satisfeita com isso.

O amigo do marido dela ficou irritado com a história do desaparecimento, e lembra que até tinha brincado com o fato de seu amigo desaparecer quando casar com a Milena. Porém, ele achava que seria apenas uma brincadeira, mas não. O amigo tinha ido para o trabalho, no dia em que desapareceu, iam voltar juntos, porém, ele ficou pra resolver uns problemas de ultima hora. Ele decidiu por si mesmo descobrir o que havia acontecido.

Ele combinou de entrar na casa enquanto ela havia saído pra viajar. Deu seu jeitinho, porém ao entrar na casa ele repara que dois olhos estão o olhando de uma forma assustadora e tenebrosa. Era o Iguana dela. O iguana avançou em direção a ele com aquele olhar mortal, ele começou a fugir, então tropeçou e o iguana passou por cima de suas costas e avançou correndo pela sala.

Assustado, o amigo olhou pra si e viu que estava tudo bem. Continuou procurando algo, subiu as escadas devagarzinho e chegou ao segundo andar, onde ficava o quarto do casal.

Ele chegou à porta e ouvia uns estranhos sons. Ao abrir a porta vagarosamente ele começa a caminhar rumo ao banheiro da suíte. Quando ele olha pra dentro do banheiro da suíte, ele fica surpreso, toma um susto e cai pra trás.

Ele viu a aterradora imagem de uma criança comendo o que parecia ser um braço humano. Era uma imagem aterradora, a criança era careca e possuía olhos muito vermelhos. Ele ia preparar pra correr quando outra criança se pôs à porta. Apontou o dedo pra ele e abriu a boca, foi quando outras duas crianças apareceram no escuro e seguraram a perna dele e começaram a morder. Ele ia gritar quando uma criança enfiou a mão em direção à boca dele colocando lá dentro um pedaço de pano

Assim, do nada apareceram mais duas crianças que começaram a devorar o corpo dele aos pouco e ele com a dor desmaiou atemorizado com o que seria aquilo. Porém, desse desmaio ele não voltaria jamais. As crianças pro fim terminaram de comer todo o corpo dele, inclusive elas mastigavam os ossos como se fossem algo crocante e saboroso. Depois de tudo terminado, elas voltavam ao escuro e o iguana por fim, lambia todo o sangue que ficava espalhado pelo chão, como se não tivesse tido nada ali.